Quem chega ao Rio Grande do Sul por Santa Catarina com certeza se impressiona com o que vê descendo pela primeira estradinha gaúcha: um ganso de quase 10 kg voando ao lado de uma motocicleta. Quem poderia esperar?
O ganso pousa tranquilo sobre as pedras soltas, assim que a moto para. Dela desembarca o balseiro Albino farikoski, dono de Vem-Vem. O ganso branco de olhos azuis tem um comportamento que nos deixa quase sem acreditar.
E o balseiro conta como fez para acostumar o ganso a voar ao lado da moto. “Quando era pequeno, eu fui acostumando. Botava ele em cima da moto. Depois, eu dizia: ‘vamos junto, Vem-Vem’, e ele começou a vir e foi que começou a embalar e a vir até aqui”, conta Albino. “Primeiro, ele começou caminhando. Depois, eu o botei em cima da moto em casa e fui acostumando”.
Vem-Vem é um ganso viajado. Pelo menos dez vezes por dia, ele deixa o Rio Grande do Sul rumo a Santa Catarina, seja voando ou então de carona na balsa. O que importa é estar bem pertinho do Albino e sempre de olho nele.
E o engraçado é que, ao invés de aproveitar a água toda que forma o lago de uma barragem, a ave que adora nadar prefere ficar na balsa e só aproveita quando o Albino lava as mãos.
Depois do banho, é hora de voltar para casa. Em dias muito quentes, Vem-Vem pega uma carona.
Em casa, é hora da comida. Na cozinha, o ganso ganha o que mais gosta: pão caseiro e água no copo. Vem-Vem não desgruda de Albino, seja na hora de ver televisão, na hora do chimarrão ou na hora de colher pasto.
Vem-Vem segue o balseiro em tempo integral. Quando perde ele de vista, bota a boca no mundo e fica todo faceiro, quando o encontra de novo. No banco de trás carro, Vem-Vem se acomoda e costuma ir junto à cidade.
Em Mariano Moro (RS), que tem pouco mais de dois mil habitantes todos conhecem a família do ganso. A cidade para para vê-los passar. A gurizada, então, é cheia de perguntas.
A sensação que se tem é que o Vem-Vem não pensa que Albino é um ganso como ele. Vem-Vem pensa que é gente. Você já viu um ganso atravessar na faixa de segurança? E ganso entrar em porta eletrônica de banco e ficar na fila? Quase não dá para acreditar, mas é a pura verdade no dia a dia desses dois.
O agricultor Danilo Gozzi conta que é a primeira vez que vejo um animal tão dócil: “é impressionante um animal se apegar tanto a uma pessoa. Chegar a vir junto no banco é coisa muito linda”.
A bancária Raquel Roman revela que se surpreendeu principalmente quando o animal passou pela porta giratória. “Tem pessoas que não conseguem passar, e o ganso passa tranquilamente”.
Pensa que o dia termina assim? Que nada. Antes de ir para casa, a família costuma orar na gruta. E Vem-Vem fica bem juntinho. Albino acha que não tem limites para o que Vem-Vem ainda pode fazer pela amizade dos dois. “Muita gente já quis comprar, mas eu não vendo por dinheiro nenhum. É o meu parceiro”, afirma o balseiro