Zootecnia
Os Cascos e o Bem-estar do Animal.
O formato do casco dos animais depende da taxa de crescimento,do índice de desgaste e da distribuição do peso sobre todas as unhas evitando doenças e defeitos de aprumos.
Qual é a importância do casqueamento para o bem-estar do animal?
Em pequenos ruminantes a maioria dos casos de claudicação está associada com patologias de casco. Pesquisas mostram que a prevalência de afecções podais varia de 10 a 19% e o crescimento exagerado é uma das principais causas (Chakrabarti, 1997). Os ovinos e caprinos necessitam de casqueamento em razão de:
- falta de exercício adequado em superfícies duras e secas para desgastar o casco naturalmente,
- da laminite crônica ou do crescimento rápido do casco, decorrente de práticas de alimentação intensiva destinadas ao aumento da produção (Reilly et al., 2004).
Estudos mais recentes têm demonstrado que o casqueamento não pode ser considerado uma prática preventiva de afecções podais, visto que ao se aparar os cascos dos animais estaria abrindo uma fonte de infecção (Wassink et al., 2010; Winter et al., 2008).
Dentre as afecções que acometem o casco podem-se citar: podridão, laminite, fibrose interdigital e dermatites. Estas patologias afetam diretamente o bem estar animal e produzem prejuízos econômicos importantes devido a:
u menor locomoção,
u infertilidade temporária dos reprodutores, pois - com problemas nos cascos - não conseguem seguir e montar matrizes que apresentarem cio,
u perda de peso e condição corporal (matrizes magras não se reproduzem),
u menor produção leiteira,
u alto índice de mortalidade até a desmama,
u peso de desmama muito baixo ou idade à desmama muito elevada,
u desvalorização do animal,
u eliminação prematura do rebanho (Turino, 2006).
Ao testar as perdas econômicas, observou-se que ovelhas com maiores níveis de claudicação foram mais propensas a ter um escore de condição corporal menor que 2,5 (Wassink et al., 2010).
Enfim, problema de aprumos decorrente de deformação do casco leva à dificuldade de locomoção, além de se tornar um fator estressante capaz de comprometer o bem-estar do animal e, consequentemente, também limitar a produtividade.
Em muitos rebanhos caprinos o manejo de casco é tratado como atividade secundária, mesmo com a existência de afecções podais no rebanho (Pinheiro et al., 2000) e o casqueamento é uma atividade apenas para reduzir estresse decorrente de desequilíbrio podal nos animais (Melo et al., 2006).
Medindo os cascos
Foi realizada a medição no rebanho Anglo-Nubiano da Universidade Federal do Piauí, localizada em Teresina, mantido em sistema semi-intensivo. Quanto às condições de criação no rebanho, as pastagens são em solo fraco arenoso, de topografia plana, sem pedras e/ou cascalho, não havendo acúmulo de umidade no solo durante o período chuvoso. Os animais foram manejados coletivamente, sem adoção diferenciada de medidas de natureza alimentar, reprodutiva ou sanitária e consistiu da ida ao pasto durante o dia e recolhidos ao aprisco para o pernoite. O aprisco tem piso ripado com distanciamento 1,5 cm e é limpo diariamente para remoção de fezes.
Antes, o manejo de casco era tratado como atividade sanitária secundária, dada a inexistência de pododermatite no rebanho. O casqueamento era feito apenas nos animais que apresentavam crescimento de casco mais acentuado.
A avaliação do nível de crescimento dos cascos dos animais foi realizada com intervalo de 60 dias entre as avaliações, mensurando-se as fêmeas vazias do rebanho. Após a primeira avaliação, os animais foram casqueados, utilizando-se faca como ferramenta de remoção do excesso de queratina, iniciando o corte na parte anterior, removendo o excesso de tecido queratinizado ao redor do casco sem que houvesse penetração ou perfuração de sola, evitando sangramentos que seriam fontes de infecção.
A mensuração do grau de crescimento e da normalidade do formato dos cascos recebeu notas de 1 a 3 para cada casco individualmente, sendo que o valor 1 correspondeu ao casco com aparência normal e sola plana, enquanto o valor 3 representou casco com crescimento excessivo, capaz de interferir no aprumo, sendo atribuídos valores com decimais entre esses extremos. Em cada avaliação registrou-se também o peso e escore da condição corporal do animal, admitindo-se que a cabra de 5 anos já era "velha", para esse estudo.
A Tabela mostra as médias das notas atribuídas aos cascos dos animais, médias do peso e escore corporal, nas três avaliações realizadas. A primeira avaliação teve valor próximo a 2 pontos que estaria indicando necessidade de realização de casqueamento (a nota 1 corresponde ao animal com o casco normal).
Após o casqueamento, constatou-se crescimento significativo dos cascos, pois na terceira avaliação a nota foi acima de 2 pontos, superando a situação antes da realização do casqueamento.
Ficou evidenciado também que havia variabilidade entre as cabras, quanto à velocidade de crescimento dos cascos. Isso quer dizer que seria interessante começar a registrar animais com sinais de desconforto por desequilíbrio podal, para dar mais bem-estar ao animal e também obter economia de custos.
Embora não houvesse registro de pododermatite, observava-se que as cabras com cascos mais deformados mostravam indícios de estresse, com leve tendência de incômodo ao se movimentar, permanecendo mais tempo deitadas, além de se manterem aparentemente mais magras. A constatação de variação entre os animais quanto à velocidade de crescimento dos cascos levou à conclusão de que o desequilíbrio podal era a principal causa desse estresse.
A idade da cabra influenciou o crescimento dos cascos dianteiros: as mais velhas apresentaram maior valor em cada avaliação, tanto antes como após o casqueamento. Já nos cascos traseiros, embora não significativo, observou-se que, após o casqueamento, os animais mais novos tenderam a apresentar maior valor. Esse comportamento pode ter sido favorecido pelo fato de os animais mais novos apresentarem menor peso corporal, embora com maior escore da condição corporal, que implicaria aceitar que o desgaste seria favorecido pelo maior peso.
Carvalho et al. (2006) constataram, em vacas leiteiras, que a redistribuição de pressão sobre as patas foram responsáveis por 5 a 6% da mudanças de conformação dos cascos: vacas não-casqueadas estressaram mais a porção da sola lateral, comparado a vacas casqueadas nas patas da frente. Já nas patas traseiras estressaram mais a região do calcanhar, enquanto as vacas casqueadas tendem a ter uma distribuição melhor de pressão entre as regiões.
De acordo com o autor, o casqueamento pode causar um alívio redistribuindo essa pressão na parte anterior da sola. Hernandez et al. (2007) observaram uma diminuição de 25% no número de novos casos de manqueira em vacas submetidas a exames de saúde preventiva e ao casqueamento, sendo considerados relevantes para o bem-estar dos animais.
O impacto do intervalo prolongado de não-casqueamento sobre a produção pode ser observado no escore da condição corporal com uma diminuição significativa de 2,6 para 2,3.
A redução da severidade e duração da claudicação foi associada a um maior escore de condição corporal (ECC) e maior produção de cordeiro por Wassink et al. (2010). Isto porque a condição corporal baixa afeta a fertilidade e a fecundidade. A baixa condição corporal em pequenos ruminantes também leva à alta mortalidade de cordeiros, provavelmente por causa de baixo peso ao nascer e produção insuficiente de colostro e leite, segundo vários autores.
Conclusões
O crescimento dos cascos mostra-se independente da idade dos animais.
Avaliação sistemática a cada seis meses, mesmo na ausência de pododermatite no rebanho é recomendada.
Também o casqueamento é recomendado nos animais que demonstrarem estresse causado pelo desconforto da deformação do casco, como forma de melhorar o bem-estar animal e diminuir perdas econômicas.
Fonte: Revista O Berro.
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