"A avaliação é a de que os preços agrícolas deram grande contribuição para o controle da inflação no País".
Confrontado com declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que atribui a alta dos preços às commodities, Rossi reage:
"Não concordo. Precisamos conter o ímpeto de atribuir à agricultura uma conta que não é dela".
No dia 22, o Banco Central também alertou para a disparada das commodities e seu impacto sobre a inflação.
Rossi admite que alguns preços agrícolas estão em alta, como a carne, mas atribui o movimento ao clima, que retardou a estação das chuvas e prejudicou os pastos, e à falta de crédito específico para o setor. Sem caixa, pecuaristas se desfizeram de matrizes no período da crise para "fazer dinheiro".
Para o ministro, o consumidor paga o preço disso agora. "O boi de pasto entrou menos no mercado, mas voltará a se regularizar. O setor de carnes, no entanto, já foi punido severamente no passado por conta dos preços baixos".
Outro item citado por Rossi foi o feijão, cujo preço assustou consumidores em todo o País. "O pessoal está falando da inflação e cita o feijão, que teve problema dois meses atrás", afirma.
Gangorra - O secretário de Política Agrícola do Ministério, Edilson Guimarães, mostra como o preço pago ao produtor é volátil. O feijão está 30% mais barato do que há uma semana e 40% inferior ao negociado há um mês. O grão, porém, está 61,5% mais caro que há um ano e 4,5% mais barato que há dois anos.
"Isso mostra que o preço está caindo", diz o secretário.
Ele e o ministro pregam que a análise da inflação agrícola seja feita em perspectiva de longo prazo e não em épocas específicas, pois se trata de atividade sujeita a fatores exógenos que influenciam os números pontualmente. No governo Lula, mostra o levantamento, apenas em 2007 e 2008 a inflação dos alimentos e bebidas foi superior ao IPCA. O mesmo deve ocorrer este ano. "Temos picos de preços nessa atividade e nesses anos vimos o crescimento da demanda no mundo todo".
Rossi rebaterá os que acusam a agricultura de ser a vilã da inflação com números do próprio IBGE: o IPCA acumulado desde o Plano Real (julho de 1994) foi de 270,5%, enquanto o índice do setor de alimentos no mesmo período subiu menos, 228,2%.
A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Kátia Abreu, engrossa a defesa. Segundo ela, há 40 anos o brasileiro gastava metade da renda com comida e hoje essa fatia não passa de 18%.
"A agricultura ajudou a aumentar o poder de compra da população, pois sobra mais dinheiro para as pessoas gastarem com outras coisas", afirma Kátia Abreu.
Para o economista da LCA Consultores, Francisco Pessoa, o ministro tem razão ao buscar avaliação mais de longo prazo no caso da inflação dos alimentos, em função da atividade do setor ser cíclica. "Assim, há momentos que a agricultura contribui para uma inflação mais baixa e outros em que prejudica".
Agência Brasil
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