A manutenção de qualquer atividade produtiva depende basicamente da eficiência do sistema de produção, que pode ser traduzida pela maior produtividade com o menor custo possível. Na atividade leiteira, a nutrição é o principal fator da eficiência do sistema de produção, pois é a maior responsável pelo nível de produção e pode representar até 70% dos custos. Portanto, pode–se afirmar que quanto mais eficiente for à nutrição de um rebanho, mais eficiente será o sistema de produção deste rebanho.
A composição do leite de vacas leiteiras é determinada por vários fatores tais como: raça, estação do ano, genética, estágio de lactação, sanidade e nutrição. As tendências atuais da comercialização do leite demandam a obtenção de certos produtos lácteos, que em geral são influenciados pela composição do leite que está diretamente correlacionada com a nutrição dos animais. A gordura é o componente de maior variabilidade do leite, podendo variar de 2,0 a 4,0%. Esta porcentagem é fortemente influenciada pela genética, por fatores nutricionais e fatores ambientais.
A gordura, a proteína, o fósforo e o extrato seco desengordurado são as variáveis de maior importância econômica, servindo de critério para o pagamento do leite em muitos países. Algumas medidas podem ser tomadas para alterar a porcentagem de sólidos no leite, entre elas:
Relação volumoso : concentrado:A explicação tradicional é que um aumento no concentrado na dieta de vacas leiteiras que ultrapasse 50% da dieta reduz a concentração de gordura do leite em função de uma alteração ruminal. O substrato ruminal com maior concentração de concentrado proporciona uma maior concentração de ácidos graxos voláteis que reduzem o pH do rúmen para menos de 6,0 acarretando em uma menor degradação da parte fibrosa da dieta.
O conteúdo de proteína pode ser aumentado em até 0,4 % ou mais se a proporção de forragem na dieta é reduzida em 10%. Deve-se ressaltar que a forragem é essencial na dieta de vacas leiteiras e deve fazer parte de pelo menos 40% da matéria seca fornecida.
Quantidade e fonte de proteína: Este assunto vem sido muito discutido e verificou-se que a porcentagem de proteína do leite é aumentada quando esta é também fornecida em maior proporção na dieta. Este dado é ainda mais concreto quando a fonte de proteína administrada é resistente aos microorganismos do rúmen. Uma maneira de fornecer proteínas não degradáveis no rúmen aos animais é a utilização de grãos que sofrem tratamento térmico na formulação de dietas. Deve-se ter cuidado neste processo, pois o excesso de calor pode provocar uma reação indesejável, reação de Maillard ou caramelização, que torna a proteína indisponível para o animal mesmo depois de passar pelo rúmen.
Quantidade e tipo de fibra: Como regra geral, as dietas devem conter um mínimo de 28% de FDN, sendo 75% deste proveniente de forragens não finamente moídas (fibra efetiva).
Outro aspecto nutricional relacionado com a gordura do leite é a quantidade de fibra efetiva. A fibra efetiva é responsável pela manutenção do pH ruminal acima de 6,2 através do estímulo à ruminação que provoca um aumento na produção de saliva e na liberação de tamponantes. A dieta deve conter no mínimo 15% de fibra efetiva, para que esta apresente efeito sobre as bactérias celulolíticas, sensíveis à baixo pH. Desta forma, o aproveitamento e a digestibilidade da porção fibrosa da dieta é maximizada e convertida em maior produção de leite de melhor qualidade.
Fornecimento de fósforo: A influência da suplementação do fósforo em gado leiteiro de alta produção tem foco na melhora do desempenho reprodutivo, que consiste na diminuição do intervalo entre partos, diminuição dos serviços por concepção e aumento na proporção de vacas prenhes em relação ao rebanho. Outro ponto em que esta suplementação exerce efeito, é na qualidade do leite, principalmente na contagem de células somáticas, diminuindo sua concentração nos leites produzidos por vacas que ingeriram níveis recomendados de fósforo.
A literatura mostra consistentemente que o fósforo não influi de maneira negativa sobre a reprodução e produção se os seus níveis na dieta forem acima de 0,20% da matéria seca, isto é, superiores às exigências de fósforo pelos microorganismos do rúmem. Níveis inferiores a estes reduzem o crescimento microbiano e a síntese de proteína microbiana e possivelmente têm efeito deletério sobre a digestibilidade da dieta. A menor digestibilidade da dieta reduz o status energético do animal que pode repercutir negativamente sobre a produção de leite e reprodução.
Aditivos: Os tipos de aditivos mais comuns utilizados visando melhorar o desempenho produtivo de ruminantes que afetam os teores de gordura do leite são os tamponantes e os ionóforos ou modificadores ruminais.
Os tamponantes como bicarbonato de sódio minimizam a queda do pH ruminal evitando acidose ruminal quando dietas com alta proporção de concentrados são fornecidas para os animais, mantendo ativas as bactérias que fermentam a fibra. Assim, os níveis de ácido acético (precursor de gordura do leite) não são reduzidos e não afeta o teor de gordura no leite.
Os ionóforos diminuem os teores de gordura do leite. A sua ação através da seleção de algumas bactérias ruminais que melhor convertem os alimentos em nutrientes reduzindo a produção de gás carbônico e metano no rúmen, tem como conseqüência um aumento do ácido propiônico (precursor de proteína do leite) e uma redução do ácido acético. Desta forma, existe um aumento na produção de leite, porem com teores menores de gordura.
O conhecimento dos fatores que afetam a composição nutricional do leite traz algumas vantagens ao produtor. Trata-se de uma ferramenta importante na avaliação nutricional da dieta, podendo levar a informações sobre a eficiência de utilização de nutrientes e sobre a saúde animal.
Assim, o produtor pode e deve adotar boas práticas de manejo nutricional que possibilitem conforto, saúde, acesso fácil à alimentação e dietas bem balanceadas em proteína (níveis adequados de proteína degradável e não-degradável no rúmen), energia, fibra, minerais e vitaminas. Essas práticas são pontos chaves para obtenção de leite com alto valor nutritivo que aliados às boas práticas de higiene e investimento em capacitação de mão-de-obra e capacitação técnica especializada são primordiais para melhoria da qualidade do leite e dessa forma encarar o sistema de pagamento por qualidade como uma maneira real de agregar valor ao seu produto.
*Artigo publicado na Revista Nutrition Tomorrow.
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