A palavra peão incomoda meus ouvidos. A impressão é a de uma pessoa rude na lida com cavalos, um prático que ás vezes alcança resultados positivos, em outras vezes é mal sucedido. Mas sempre lida com cavalos sem o polimento do profissionalismo de um treinador.
Em haras de primeiro mundo a mão-de-obra é especializada – tratadores, treinadores (que também são apresentadores) , casqueadores, veterinários especialistas em reprodução e em clinica geral.
Na maioria dos haras de criação de cavalos marchadores no Brasil não existe a diferenciação entre tratadores/treinado res/casqueadores e até mesmo o "peão prático" atuando como Zootecnista, Agrônomo e Veterinário.
O treinador é a peça mais importante na complexa engrenagem que movimenta um haras. É ele quem, ao invés de domar um potro de cabresto, como muitos peões fazem, na base da violência com os potrinhos (as) recém-apartados, executa não a doma de cabresto, mas o adestramento dos potrinhos (as) antes da apartação, com toda a segurança ao lado das mães e sem nenhuma atitude de violência.
É o treinador quem prepara os potros (as) para os julgamentos de Morfologia, através de metodologia profissional, com base na rotina do treinamento de cabresto e do condicionamento físico que respeita os limites da integridade física, sem se descuidar do condicionamento mental, de acordo com as individualidades.
É o treinador que somente entra em uma pista de julgamento, como apresentador, estando o animal adequadamente preparado para competir. O treinador sabe que a apresentação representa uma boa parcela do campeonato, e procura compensar a (ou as) deficiência de cada animal.
É o treinador quem aguarda o momento certo para iniciar o adestramento de sela, não a doma, como se cada potro (a) fosse um cavalo (ou égua) chucro de rodeio.
Um treinador busca a integração perfeita com seu "aluno". Somente após findado o adestramento básico, estando o animal totalmente obediente, e flexionado em suas partes, o treinador tomará a decisão de iniciar o treinamento para competições. O treinador sabe que sem o flexionamento pleno não será possível exteriorizar o máximo do potencial atlético.
Mas o peão ignora a palavra flexão. Insiste em apresentar animais ponteiros, "pesados" de boca, de comandos pouco suaves de rédeas, sem reunião, sem qualidade na impulsão.
O treinador sabe escolher corretamente a embocadura e decidir pelo momento correto de fazer uma transição.
Em síntese, um treinador é possuidor do "horse sense" ou seja, a sensibilidade para lidar com cavalos, buscando de cada um deles o máximo do potencial atlético, preservando a integridade física.